Rio Tejo pintado pela poluição das empresas

As empresas tendem a ignorar os limites legais estipulados. O rio Tejo apresenta-se como uma das maiores vítimas das descargas de poluentes pelo setor empresarial. O programa “Sexta às 9” expôs o crime ambiental que tem vindo a ser praticado por duas empresas, em Vila Velha de Ródão. 

O crescimento turístico nas margens do rio Tejo aumentou de forma significativa, durante os últimos anos, mas hoje encontra-se ameaçado pela aparência turva daquele que é o maior rio da Península Ibérica. Vila Velha de Ródão, situada no distrito de Castelo Branco, é uma das localidades testemunhas deste crime ambiental.

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Imagem do Rio Tejo retirada da Ambiente Magazine.

“No último ano e meio, dois anos, temos notado um agravamento significativo e temos notado a diminuição da procura de alguns produtos, principalmente aqueles que são relacionados com o rio, nomeadamente, na área gastronómica” indicou Nuno Coelho, empresário turístico, ao programa “Sexta às 9”. A investigação levada a cabo pela equipa da RTP seguiu as duas empresas suspeitas pelos derrames: Centroliva e a Celtejo. (Crimes ambientais no Tejo – Reportagem do “Sexta às 9”)

Luis Loureiro, jornalista colaborador no “Sexta às nove”, não desvaloriza as investigações que têm vindo a ser realizadas no meio jornalístico sobre a poluição do rio Tejo, no entanto, acredita que são analisadas de um ponto de vista “genérico”. Um conjunto de informações relativas a Vila Velha de Ródão, que a equipa teve acesso, foi o suficiente para iniciarem uma investigação sobre os crimes ambientais que decorrem no rio vizinho da aldeia.

A Centroliva produz energia através da matéria orgânica da azeitona. Segundo a reportagem do “Sexta às 9”, no início deste ano, o curso de água estaria tão poluído que o próprio Ministério do Ambiente teve de intervir e ameaçou fechar a empresa. Ainda que as consequências sejam visíveis e que apontem diretamente como principal responsável, a Centroliva não é a única poluidora. Não obstante, a empresa já cumpriu algumas obrigações impostas pelas autoridades relativamente à poluição. O “Sexta às 9” descobriu que a entidade em causa já despendeu 50 mil euros em obras para evitar os derrames de poluentes e prometeu ainda investir meio milhão na melhoria do desempenho ambiental.

O jornalista Luís Loureiro, tendo em conta os anos de experiência,  chegou à conclusão que existia uma outra empresa que estaria a ser ressalvada do crime ambiental a que o rio Tejo está sujeito. A Celtejo não entrava na lista de culpados por empregar uma grande quantidade de pessoas de Vila Velha de Ródão e por “utilizar os mecanismos da responsabilidade social para manter uma ligação muito forte à terra”. A empresa tem mais de 50 anos de história e é reconhecida pela produção de pasta de papel. O que se verifica neste investigação, bem como em muitas investigações jornalísticas, é a dificuldade que os profissionais encontram quando existem situações de conflito de interesse.

“Sempre que saem notícias alarmantes sobre o rio, temos cancelamentos imediatos”, afirmou Nuno Coelho, que vê o seu oficio ser prejudicado pelo panorama em que se encontra o rio. Os próprios pescadores têm vindo a demonstrar o descontentamento e a divulgar imagens que expõem a poluição. (Video gravado por um grupo de pescadores de Vila Velha de Ródao)

A Celtejo não colaborou com a investigação, mentiu alegando que cumpria todos os limites legais impostos. A reportagem veio ainda provar que a empresa pediu ao estado uma “revisão da licença de forma a deixar de incluir um valor limite para o parâmetro CBO5”, associado à carência de oxigénio nas descargas. Desta forma, poderiam continuar a poluir sem estarem sujeitos a coimas ou processos legais.

Mais uma vez, a função do jornalismo fez-se ouvir. Ainda que se verifique um empobrecimento no jornalismo de investigação, o programa “Sexta às 9” tem vindo a causar um grande impacto na sociedade. Entre investigações que são do interesse público e que influenciam diretamente a vida das pessoas, o programa da RTP retira o pano que encobre as injustiças, o abuso do poder, entre outros problemas que sem o papel do jornalismo dificilmente seriam reconhecidos.

Nádia Santos