Onde é que a TAP irá parar?

A TAP (Transportadora aérea Portuguesa) continua a estar na ordem do dia. Primeiro foram as sucessivas greves, agora a venda que se decide até à próxima semana.

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De um lado encontram-se os pilotos da TAP que fazem greves sucessivas contra a privatização da companhia aérea portuguesa juntamente com os sindicatos. Do outro lado encontra-se o governo PSD/CDS-PP, que afirma que a empresa tem de ser vendida porque está a dar prejuízos ao país.

E, como se não bastasse, em plena campanha eleitoral (está certo?), António Costa (secretário-geral do PS) também não concorda com a privatização da empresa. No seu entender, não será o melhor para os portugueses.

No Passado dia 15 de maio foram apresentadas as propostas de compra da empresa. Na corrida encontram-se David Neeleman, empresário brasileiro ligado a várias companhias aéreas; Germán Efromovich, proprietário da companhia aérea AviancaTaca; e Miguel Pais de Amaral, presidente não-executivo da Media Capital e administrador de empresas.

Para estes a instabilidade que a empresa está a viver e os prejuízos, parecem não ser um entrave à compra.

Tanto David Neeleman, como Germán Efromovich, afirmam que vão distribuir os lucros que a empresa tiver pelos trabalhadores.

As sucessivas greves dos trabalhadores contra a venda da empresa, assim como as críticas da oposição ao governo – o PS – foram um entrave na hora de os investidores avançarem com as propostas de compra da TAP.

Na apresentação das propostas para a compra da empresa, os dois candidatos fizeram questão de referir que estão preparados para todos os desafios que possam advir da empresa, a começar pelas fragilidades que possam existir nas contas. Ou seja, estes têm ao dispor dinheiro para combater qualquer inconveniente que possa acontecer.

O governo de Pedro Passos Coelho considera que a empresa precisará, num curto espaço de tempo, de cerca de 300 milhões de euros, mas as propostas feitas pelos investidores têm de conter ainda um valor a pagar de 61% do capital que se encontra à venda.

Durante a próxima semana o governo e a Holding estatal que detém as ações da TAP vão avaliar as propostas e analisar o plano estratégico que cada proposta apresenta.

Com base na análise será decidido se escolherão já o vencedor ou se entrarão numa fase de negociações, sendo que um contrato será assinado até aos finais de junho.

Imagem: Jornal “i”

Ana Rita Azevedo

A Revolução dos Cravos aos olhos de quem lá esteve

António Alves, quando acorda naquela manhã de abril de 1974, não sabia ainda o que iria testemunhar e o quanto iria ajudar a marcar a história de Portugal. A Revolução dos Cravos, a revolução que o povo português tanto ansiava, demonstrou ser uma surpresa para todos.

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António Alves tem 62 anos e transportou militares no 25 de Abril de 1974

Com apenas 21 anos, António começou o serviço militar em Lagos, no Algarve. Não era algo que gostasse ou quisesse. Pensou em emigrar para a França e fugir, como muitos amigos seus fizeram. Durante muito tempo, a maior decisão seria escolher entre cumprir serviço militar durante o Estado Novo ou atirar-se de cabeça para o desconhecido.

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Postal da Fortaleza, Lagos, que enviou à atual mulher no final do ano 1973, onde se pode ler no verso: “Quininha, ofereço-te este postal como recordação do quartel onde comecei a minha vida militar. Beijinhos”

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Mais de 40 anos depois, António admite que essa experiência o fez crescer, tornou-se mais responsável e abriu os olhos para muitas situações, porque “naquele tempo, as pessoas andavam um pouco com os olhos tapados”.Também teve experiências que nunca irá esquecer e que não concordava, mas “o sistema tinha de se fazer valer”, testemunhou os polícias a castigar civis, tanto na rua como no quartel. Fora dos olhos das outras pessoas, os “castigos” eram piores.


Ouça uma parte da entrevista em áudio, em que António fala dos tempos vividos antes do 25 de abril de 1974, como contribuiu para mudar a história do País e como foram os dias de alegria após a Revolução:


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António foi para a Guiné após a Revolução. Esteve lá três meses. Foto de agosto de 1975

Diana Pinto Alves

Semearam-se os cravos, regou-se a revolução, colheu-se a Liberdade

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A madrugada acomodou-se. Fria, escura e silenciosa, adensando à medida que o relógio avança e o nervosismo aumenta. Faltam poucos minutos para as 4 horas. Fala-se pouco. Porque não se pode. Ou melhor, não se deve fazê-lo. As frases são curtas e escolhem-se bem as palavras, caso contrário, sofrem-se as consequências. Neste instante, porém, há pouco mais que possa ser dito. Tem-se reunido, tem-se acrescentado, jogado ao gato e ao rato pela voz calada e os cadernos brancos de apontamentos daqueles que, sem conspirar, secretamente conspiram. Apesar de ainda não haver um plano, existe fundamento, um motivo magnânimo e superlativo. Uma esperança. Ninguém quer a guerra e eles sabem que estão a perder a força. Tremem, estão com medo. Já nem se entendem a eles próprios. Há muito que deixaram de ter o mesmo controlo e o veem perder-se, escapulir-se cada vez mais por entre os dedos fascistas. Tem de ser agora. Tem de ser agora! Há a aderência dos que apenas estão à espera. Basta só que alguém avance. O resto virá atrás, deitar abaixo essa corja de pulhas. “Vai dar buraco”, vaticina Otelo, “vou ser preso”. Vítor Alves, que partilha com ele o estatuto de major, tenta em vão demovê-lo do golpe premeditado, capaz de comprometer o Movimento. “Não te metas nisto, sai fora”. Entendendo que não havia espaço para voltar atrás, limita-se o primeiro a devolver: “Mas já me meti”.

São 4 horas, nas Caldas da Rainha. O vazio plácido das ruas opõe-se ao frenesim contido do quartel, onde se juntam os militares inquietos e ansiosos. Chegou a hora de vencer o regime. O capitão Armando Ramos dá ordem à coluna do Regimento de Infantaria 5 para acelerar. O Norte já vem a caminho, entre unidades de outros postos. 24 veículos iniciam a marcha rumo a Lisboa, no seu ritmo pesado, o som dos motores ferindo o silêncio e pautando a melodia antes da esperada queda da ditadura. Os rostos são de ânimo e de coragem. O sonho está próximo e determina quem segue viagem. Todavia, há mentes que continuam inseguras quanto à eficácia da intentona. “Vai dar buraco”. O corpo das Caldas aproxima-se da capital. As restantes tardam em chegar. Onde estão os camaradas do Norte, as colunas de Mafra, Santarém ou Lamego? Onde? A euforia dá lugar à frustração e ao desespero quando descobrem que estão sozinhos diante de uma rebelião isolada. Não adianta. Falhou o golpe e o medo cresce, desmesurado, implacável. Sem apoio, nem margem de manobra, resta somente a retirada. Deu mesmo buraco…

Os anos de ditadura

Desde 1926, com a instauração da Ditadura Militar provisória a que sucedeu o atual Estado Novo, que Portugal se mantém atado a regimes prepotentes. Mais de quatro décadas subjugadas a Governos autocratas, repressivos, veiculadores da censura e de uma política militar rígida, que hoje nos atira para a guerra e envergonha no estrangeiro. Oprime-se um povo, em carestia de vida, com a espoliação de direitos. Pinta-se a imprensa com o carvão sujo do “Lápis Azul”, manejado pelos cortes do “Exame Prévio”. Insiste-se num conflito armado, que perdura há 13 anos nas colónias, contra movimentos de libertação a reivindicar a soberania que lhes é legítima. Vivemos assim em guerra, arriscando os nossos para negar a paz aos outros. O Presidente do Concelho, Marcelo Caetano, chegou a prometer mudanças. Uma recetividade, ainda que comedida, a um regime mais liberal. Mas, na prática, apenas mudaram os nomes de algumas ferramentas do aparelho do Estado. Porque os sentidos são os mesmos. A mecânica é idêntica, inflexível. Está tudo igual. Parece não haver lugar para desilusões, porque, na verdade, não nos chegam sequer a oferecer esperança nos ensejos de expectativa. Afinal, que país é este?

Nasce o Movimento

Apesar de Angola, Moçambique e a Guiné reterem um número de tropas lusas que suplanta a fasquia dos 150 mil homens, tem-se verificado um défice de comandantes nas diferentes comarcas de batalha. Como resposta, em Julho de 1973, surge um decreto-lei que promove um processo acelerado e pelo qual oficiais milicianos podem entrar no Quadro Permanente. A medida faz torcer o nariz a inúmeros oficiais de carreira, agudizando protestos que já não eram brandos. No mês anterior, o regime organizara, na Invicta, o Congresso dos Combatentes, destinado a exibir um suposto comprometimento dos militares com a política ultramarina. Tratou-se, no fundo, da continuidade da doutrina ideológica que vem sendo incutida pelo Estado desde 1961, aquando do declarado início dos confrontos e que visa, sobretudo, afixar a ideia da guerra como solução inevitável para o problema colonial.

Todas as cartas, abaixo-assinados ou testemunhos de contestação escritos por membros das Forças Armadas, têm sido banalmente ignorados pelo Presidente do Concelho. “Isto não vai lá com papéis e requerimentos”, desabafa certo dia, o capitão Vasco Lourenço ao seu colega major, Otelo de Saraiva Carvalho. “Temos de fazer um golpe”. É a partir de trocas de palavras semelhantes – em que muitos descobrem comungar sentimentos – que nasce o Movimento dos Capitães, a 9 de Setembro e que, numa primeira instância, apenas pretende focar-se nas exigências militares, como a revogação do decreto. Em pouco tempo, são escolhidas comissões provisórias, encarregues da sua organização estrutural. O mês de Dezembro altera-lhe o desígnio para Movimento dos Oficiais das Forças Armadas (MOFA), sem contemplar no entanto um desvio aos pressupostos inaugurais. Otelo e Vasco Lourenço são eleitos responsáveis pelo desenho da operação militar, enquanto a Vítor Alves é atribuído o encargo da orientação política, que se tem revelado necessária como garantia de força e seriedade. Entretanto, são anulados os decretos que estiveram na génese do movimento fazendo temer a desmobilização da luta.

Exoneração de Spínola e o Golpe das Caldas

Chega, enfim, o ano decisivo que ficará eternamente incrustado nas páginas da nossa História: 1974. António de Spínola, Vice-Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, fica a conhecer a posição do MOFA pouco antes de, a 23 de Fevereiro, publicar o livro Portugal e o Futuro – um sucesso nas bancas –, onde defende uma solução política – e não militar – para a guerra do Ultramar. A exposição pública de uma opinião contrastante por parte de uma personalidade afeta ao regime acende a fúria de Marcelo Caetano, que reage de imediato através de um discurso na Assembleia Nacional, transmitido pela RTP. Pelo meio é detido o capitão Vasco Lourenço, posteriormente enviado para os Açores, deixando Otelo e Vítor Alves isolados no comando do golpe. Caetano não perdoa Spínola, destituindo-o das suas funções após a “Brigada do Reumático”, na qual os oficiais-generais das três frentes das Forças Armadas são chamados a concordar novamente com o Governo.

A exoneração de Spínola – em paralelo com a do general Costa Gomes – leva uma coluna do Regimento de Infantaria 5, proveniente das Caldas da Rainha, a convencer-se de que é urgente tomar a ação, precipitando-se numa tentativa mal planeada para derrubar o regime. O argumento era de que este “estava caduco” e que, caso alguém avançasse, os restantes camaradas iriam acompanhá-los, o que não se verificou. Tudo saiu furado, sendo preso um número próximo de 200 militares. Por muito pouco, Otelo não se encontrava entre eles. A ser o caso, Vítor Alves ver-se-ia abandonado na posição de coordenador da “verdadeira” Operação Fim-Regime, traduzindo-se a situação num adiamento sem grandes perspetivas de data futura.

Viragem Histórica

Agora, mais do que nunca, é imperativo arregaçar as mangas. O Movimento – entretanto renomeado de Movimento das Forças Armadas (MFA) – volta a reunir-se para deliberar os prós e contras do malogrado 16 de Março. Perdeu-se uma luta, mas ainda há pernas para andar. A reação benévola por parte da ditadura oferece um certo otimismo, mas vive-se em contrarrelógio. Não tarda e aqueles que foram presos serão questionados pela PIDE/DGS. Se alguém der com a língua nos dentes, aí sim, o Movimento ficará arruinado. Sem mais delongas, Otelo começa a delinear o golpe que terá de acontecer antes do final de Abril. Melo Antunes apresenta a um restrito grupo de oficiais a primeira versão do programa político a adotar pelo MFA, em consonância com o documento O Movimento, as Forças Armadas e a Nação. A 15 de abril Otelo acaba de ultimar a estratégia das operações, que intitula de Viragem Histórica. Distribuídas as instruções pelas várias unidades intervenientes, de Norte a Sul do país, o golpe está então preparado para atacar o fascismo.

Operação Fim-Regime

A falha técnica que contagia o sistema de comunicações montado pelo tenente-coronel Garcia dos Santos angustia os presentes, dando-lhes cabo dos nervos. Está prevista, daqui a nada, a transmissão da primeira senha que irá desencadear a ação e, perante a impossibilidade de ouvi-la, o Posto de Comando no quartel do Regimento de Engenharia 1, na Pontinha, começa a temê-lo como prenúncio de novos azares. Felizmente, o dispositivo normaliza o seu funcionamento a tempo de ser audível a frequência dos Emissores Associados de Lisboa: “faltam cinco minutos para as 23 horas. Convosco, Paulo de Carvalho, E Depois do Adeus”. À 00h20 a Rádio Renascença exporta Grândola, Vila Morena, pela voz de José Afonso, confirmando o golpe através do segundo sinal. Várias colunas partem de diferentes localizações, dando início à revolução e procedendo à ocupação de postos cirúrgicos. À Escola Prática de Cavalaria, liderada por Salgueiro Maia, está destinada a importante tomada do Terreiro do Paço. E as coisas vão correndo conforme esperado. Sucessivamente, Cristo Rei, aeroporto e televisão vão sendo “conquistados”. Depois de invadida a central, a Rádio Clube Português passa a servir de estação emissora do MFA.

Um momento chave dá-se na manhã de 25, com a rendição dos blindados de Cavalaria 7, a última cartada do Governo para levar de vencido o golpe de Estado. O dispositivo de Garcia dos Santos, capaz de intercetar comunicações, permite identificar o lugar onde se refugiou o Presidente do Concelho: está no Quartel-General da GNR – que fica no Carmo – para onde segue de imediato a unidade de Salgueiro Maia. As horas passam sem que o regime baixe definitivamente os braços. Até que, por volta das 16h30, Otelo recebe na Pontinha o telefonema que há muito esperava atender. Marcelo entregara-se, oferecendo o poder a Spínola, o interlocutor da chamada, que comunicava ter sido convocado ao Largo do Carmo, de modo a efetivar a sucessão. “Considere-se mandatado pelo Movimento”, remata Otelo sem conter a felicidade. Faltava apenas tombar a sede da PIDE/DGS que, teimosa de feitio, apenas desistiu ao final da tarde. Estava assim consumada a queda da ditadura.

Pós-25 de Abril

É irreversível. Em breve, o Movimento alcançará os objetivos a que se dispôs – derrubar a ditadura, pôr fim à Guerra Colonial e instaurar a liberdade e democracia. A imprensa livrar-se-á da censura, renovando o sentido à prática do jornalismo. Terminará o ciclo tirânico de violência e intimidação da polícia política, a PIDE/DGS. Portugal será um país livre, dono do seu destino, libertando-se de um confinamento dilacerante, de um isolamento para com o resto da Europa que olhava embaraçada o interior das nossas fronteiras.

Circulam ainda pequenas doses de ceticismo. Há muita gente que não acredita. Parece mentira, bom demais para ser verdade. Milhares afluem nas ruas sem saber o que esperar realmente daquele 1º de Maio. Haverá discursos de líderes políticos que se encontravam fora, no exílio. Fala-se de Álvaro Cunhal e Mário Soares. Pouco a pouco, vai-se espalhando a crença e soltando emoções reprimidas anos a fio. Ouvem-se cânticos: “O povo unido jamais será vencido!” Levantam-se os cravos, segurados pelas mãos de uma Nação que vê agora à sua frente um caminho repleto de possibilidades. Rumo a um futuro em que a liberdade apenas se confrontará com o avanço do tempo, da idade que não perdoa e que não permite escapatória. E os séculos virão, efémeros, sem esquecerem o dia em que finalmente proclamamos a libertação da vitória.

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Ricardo Marques (colaborador)

Histórias de Vida, 25 de Abril 1974: “Viver num regime desse cariz, era sinónimo de ausência”

Américo Duarte tinha 28 anos quando se deu o 25 de abril de 1974. Casado de fresco   o ex-bancário soube da revolução pela rádio. Naquela época de ditadura, admite, o teatro de revista era um meio de veicular mensagens subliminares. Nos dias após a revolução, “tudo estava controlado, desde que não se fizessem ondas”. Hoje, aos 69 anos, recorda como era viver num regime onde o dinheiro era escasso, mas a resiliência inabalável.

Como era viver num regime ditatorial?

Américo Duarte (A.D.): Viver num regime desse cariz, era sinónimo de ausência. Ausência de liberdade de expressão, de escrita, falada, rádio e televisão estatal. 

Qual era a sua atividade profissional na altura? De que modo é que o regime que vigorava se refletia na sua profissão?

(A.D.): Nessa época já era bancário. Desde que não se fizessem ondas, estava tudo bem.

O que mais fazia falta?

(A.D.): As maiores carências e dificuldades da época eram o défice económico e financeiro. Era necessário equilibrar os compromissos, fazendo uma gestão eficaz de tudo – do pouco – que se tinha.

Como era estudar naquela altura?

(A.D.): Acumulava-se com o emprego. Limitavam-se os tempos livres. O lazer ficava relegado para segundo plano. Todo o tempo disponível era direcionado para as aulas e as horas de estudo.

E quanto aos meios informativos. Como se informava? Apercebia-se da censura sobre os meios de comunicação?

(A.D.): Através de algumas leituras e alguma imprensa estrangeira que se conseguia passar. Claro que a censura era bastante percetível. Eram poucos os artigos que, por vezes, escapavam “ao corte”. O teatro de revista aproveitava todas as oportunidades para veicular as mensagens subliminares. Assim como o Jornal Republica.

Como era sair à rua na época?

(A.D.): Eram tempos em que não se verificavam riscos de segurança. Mesmo à noite, frequentavam-se cafés e cinemas com bastante movimento, sem qualquer tipo de problema. Por muito que custasse admitir – e por paradoxal que possa parecer – a PIDE trouxe segurança.

Onde estava quando deflagrou o 25 de abril?

(A.D.): Nesse dia e nos dias que lhe antecederam estava em final de férias. Tinha casado há pouco.

Através de que meio soube deste acontecimento?

(A.D.): A rádio foi efetivamente “o grande meio” da época. E foi através dela que soube o que se estava a passar.

Soube imediatamente o que aquele momento significava?

(A.D.): Soube. Fim da guerra no Ultramar e muita esperança na melhoria de vida das populações, que de imediato manifestaram enorme alegria e se comportaram civilizadamente apoiando os militares e sem confrontos.

O que trouxe esse dia?

(A.D.): Liberdade de expressão, melhores perspetivas, nomeadamente nas áreas da saúde, da educação e trabalho. Com a particularidade de tudo isto se estender à generalidade da população.

Como foi a vida pós-25 de abril? Que benefícios trouxe? E malefícios?

(A.D.): Os benefícios foram muitos, nomeadamente todas as melhorias necessárias a uma vida mais estável, de um modo geral. O que também trouxe alguns malefícios, mas nada em demasia.

41 anos depois, houve mudanças?

(A.D.): Confesso que algumas expectativas ficaram frustradas.

O que mudou?

(A.D.): De um modo geral a mudança foi para melhor, pois a miséria abrangia muita gente. A Saúde, o ensino, a segurança social e a habitação – embora insuficientes -, do nada passaram a alguma coisa.

O 25 de abril trouxe efetivamente um Portugal melhor?

(A.D.): Sim, trouxe. Apesar de nos últimos anos se notarem graves deficiências, as culpas não se podem atribuir apenas à conjuntura internacional. É necessário ver que a culpa está também internamente. A morosidade na aplicação da justiça, em especial no tratamento dos processos mais graves, descredibiliza, revolta e desanima as populações.

Jéssica Rocha

Política nos dias de hoje, o que os jovens pensam – Parte 2

Cristiana Leite Cruz é estudante de Direito na Universidade Lusíada do Porto. A par da licenciatura procura estar a informada sobre tudo o que se passa no país. A jovem de 20 anos dá-nos a sua opinião.
“Política, é uma palavra usada com uma conotação bastante negativa nos dias que correm. Mas afinal o que é a política?
Aristóteles não se enganou ao dizer que o Homem é uma animal político, muito pelo contrário, o Homem é um ser que participa na vida e decisões da sua comunidade. A política é isso mesmo, é a discussão e a partilha de ideias com um fim único, o bem-estar social.
A política é feita diariamente, seja na forma de escolha das trajetórias dos transportes públicos, seja na educação, seja na cultura, a política está ao “virar da esquina”.
Mas a verdade é que a credibilidade da política e dos governadores tem caído a pique. Constamos que a população está em condições de vida miseráveis, níveis de desemprego nunca antes visto, a educação tende a ser desvalorizada, e como se não bastasse casos insólitos de fraudes e dívidas de antigos e atuais governadores.
A população ao sentir a austeridade sobre si e não visualizar casos palpáveis de melhorias fica revoltada com a atual política e o seu descontentamento é visível.
Existem mesmo pessoas que consideram ou colocam a questão que a democracia não está a dar os frutos que deveria e “choram” mesmo por Salazar, os chamados os salazarentos, e ainda os que acreditam vincadamente no regime fascista, os salazaristas.
O 25 de abril não foi em vão, foi um grande marco a nível político e histórico, tudo se alterou com imensas melhorias no campo dos direitos liberdades e garantias, estes antes sugados pelo regime fascista. Não podemos deixar que algo tão nobre que foi objeto de muita luta caia por terra.
Para além dos partidos políticos, as juventudes partidárias lutam diariamente e afincadamente pela melhoria social, dão muito de si aos partidos com esperança de alterar o quadro político atual e mudar radicalmente o conceito formulado de política.
Mas para que a mudança seja possível é necessário reconhecer que a política atual não é a melhor, e usar o direito de voto para alterar o quadro político atual. Digo isto, porque se tem verificado números crescentes de abstenção em eleições, o silêncio nunca é uma boa opção, tudo o que fazemos na vida tem as suas consequências, por isso nunca podemos deixar que alguém escolha por nós!
É preciso conhecer melhor as propostas, discursos e ações políticas de cada candidato e votar em consciência.”

Cristiana Leite Cruz
Ana Rita Azevedo

Transparência, jovens e política – Parte 1

Em tempos de crise monetária e política será que os jovens ainda acreditam que será possível mudar? O Infomedia recolheu a opinião de Ricardo Vieira, um  jovem de 21 anos a acabar a licenciatura.

“A política em Portugal sempre teve momentos difíceis, o povo português chega a ser difícil de agradar e nem todos os politicos têm a capacidade de reagir nestes casos, ainda por cima sendo constantemente bombardeados pelos media com casos disto e daquilo. Por um lado acho ridículo este facto, pois só serve para arranjar confusões e em nada ajuda o estado da nação., haja liberdade de expressão, mas que não seja humilhante, no entanto o outro lado da moeda temos uma classe política que apenas está interessada em números, não olhando para as pessoas, ora, isto faz todo o sentido num governo de direita, que adora as matemáticas, sendo que a esquerda prefere pôr as necessidades do povo na frente. Isto é o que diz a teoria, pessoalmente nunca vi estes conceitos em prática. Pessoalmente acho que o meio político mais correcto para este século seria uma combinação adaptada dos números e das necessidades da sociedade, visto que cada um não pode viver sem o outro.

No dia 25 de Abril de 1974  esperou-se mudança para uma democracia, mas será que foi igual para todos? Deixo aqui um excerto de Sérgio Franclim da sua obra “ A Miltologia Portuguesa”, onde refere o seguinte no capítulo referente à Batalha de Aljubarrota: “ Atribuiu-se ao 25 de Abril a celebração da liberdade e da democracia – que liberdade e que democracia?…O ditador que havia morrido uns anos antes (…) morreu pobre; hoje aqueles que governam Portugal morrem ricos. De facto, não fizeram a revolução por Portugal, mas por eles. O país está mais corrupto e mais injusto. É governado por aqueles que estão no partido que é contrário ao da nacionalidade portuguesa(…)”  Esta vergonha de classe política que gosta de renovar a frota automóvel todos os anos (curiosamente sempre marca alemã, mas isso é outra discussão) faz do Parlamento um verdadeiro recreio, onde insultos e gestos estão à vontade para entrar, mas um manifesto de um pai que recebe 500€ por mês com uma família para manter é retirado imediatamente pelas forças da autoridade. Democracia? Parece-me mais repressão.
Se o leitor está a comentar algo como “ o meu partido não faz isso”, lamento informar que mais cedo ou mais tarde irá fazê-lo, porque senão, não acha que a chamada oposição deveria apoiar o governo em vez de contrariar sempre com tudo? Parece dificil imaginar um cenário onde os “amarelos” dizem ao governo “castanho” que tem uma proposta de apoio e não de discordância. É muito fácil dizer “ se for eleito, vou aumentar o salário minimo”, mas onde estão as condições fincanceiras para tal? Por isso volto a reforçar a ideia de que a política em Portugal é feita de interesses egocêntricos, como um galo que na capoeira reclama o poleiro e não quer sair de lá.

Em relação à confiança da juventude na política, essa só deve ser positiva para quem já está a ser formatado nas J’s dos partidos. Um jovem como eu não vê futuro quando completar a licenciatura, vai ser mais um com canudo  a tentar arranjar trabalho no supermercado mais próximo. Acho que as J’s são grandes oportunidades para os jovens que gostarem de fazer, absolutamente nada, anda na faculdade, tira o curso, reforça a sua posição na J, até tens dois dedos de conversa, sabe os truques de falar muito sem dizer nada e pronto tem a vida feita na política.

No meio disto tudo falta uma componente importante. Transparência. Sem ela o povo continua a viver na mentira e os governantes e seus opositores contiuam a viver à grande, sem qualquer tipo de preocupações pelo povo. Falta acordar, falta agir, falta lutar por uma vida com honestidade, correta e sem dependência de pessoas egoístas com vidas de gastos megalómanos e supérfluos.”

A questão persiste, Ricardo dá-nos a opinião que tem sobre Portugal, sobre o que os jovens poderão pensar. Mas afinal a confiança? ” essa só deve ser positiva para quem já está a ser formatado nas J’s dos partidos”.

Ana Rita Azevedo

Incentivo à política

Realizou-se na passada sexta feira, dia 27 de fevereiro a 5º edição da academia juventude socialista com André Ferreira em Penafiel. André Ferreira é um penafidelense que foi candidato à câmara municipal de Penafiel no ano de 2013, pelo partido socialista.
O intuito de formar novos políticos está presente em todas as edições da academia, sendo que podem participar não só militantes como todo o público em geral.

Ana Rita Azevedo

Responsabilidade à flor da pele

Desde muito novo que Luís Guimarães começou a ser uma presença ativa no mundo político, mais propriamente no Partido Socialista.

Hoje, aos 26 anos concilia as suas atividades profissionais com uma vida política ativa. É presidente da Juventude Socialista de Penafiel.

Infomedia : Como surgiu o seu gosto pela política?

Luís Guimarães (LG) :O gosto pela política surge com o meu pai. O meu pai tornou-se militante do Partido Socialista pouco depois do vinte cinco de Abril e desde muito jovem que me recordo de ir com o meu pai a iniciativas políticas e este gosto surge com essa frequência nas circunstâncias políticas.

Infomedia :O que sentiu quando lhe foi proposto, ou se auto- propôs a presidente da Juventude socialista de Penafiel (JS)?

LG :A responsabilidade sobre a Juventude Socialista de Penafiel surgiu de um modo natural e acredito que quando as responsabilidades procuram as pessoas e não o contrário, essas responsabilidades são exercidas com maior eficácia na causa pública. Senti-me honrado por terem visto em mim alguém capaz de liderar uma estrutura com responsabilidades sobre os cidadãos, mas ao mesmo senti-me responsabilizado e percebi que estava preparado para assumir esta responsabilidade.

Infomedia: Qual é o seu próximo objetivo no mundo da política?
LG :Continuar a mudar o mundo. A política serve para fazer as pessoas felizes. Pretendo fazer o que comecei a fazer desde que entrei na política: procurar as pessoas, conhecer as pessoas e os problemas que apontam, pensar, refletir e debater sobre soluções, propor e concretizar uma melhoria real na vida das pessoas.

Infomedia :O que acha do futuro da política em Portugal?
LG: Eu acredito numa mudança do paradigma da política portuguesa num futuro próximo. A médio prazo os quadros políticos portugueses serão largamente renovados por uma limitação de mandatos a todos os cargos políticos que entretanto será legislada, a exclusividade de funções, a melhoria de condições para os políticos exercerem as suas funções e responsabilidades em suma levará a que o futuro da política em Portugal seja nobre e digno.

Infomedia: Qual é o principal objetivo de uma J’?
LG : Pronunciar-me-ei apenas relativamente à Juventude Socialista. Considero que a JS tem dois objetivos gerais: fazer políticas que seguem o ideário socialista que visem um desenvolvimento do país nas suas diferentes dimensões; e fazer políticos competentes, incorruptos e leais às populações.

Infomedia :Como presidente da JS, sente que os jovens atualmente se interessam pela política?
LG: Considero que existe uma grande percentagem de jovens interessados pela política e pela participação na vida pública portuguesa. Mas vejo que há uma necessidade de estimularmos mais os jovens a serem políticos e isso passará também por politizar mais as escolas, criando várias instâncias de promoção de cidadania.

Infomedia :As J’s servem para formar futuros políticos?

LG: Falando apenas sobre a Juventude Socialista, sendo a única realidade que conheço com profundidade, esta serve também para formar futuros políticos. É uma escola de boas práticas e vemos que vários políticos da Juventude Socialista são hoje políticos de referência do Partido Socialista e da sua ação política que em muito beneficiou o país.

Infomedia: De que modo acha que uma J’ influência o Partido que representa?
LG : A Juventude Socialista influencia de um modo muito claro o Partido Socialista. A Juventude Socialista tem na sua história a influência sobre o PS ao trazer várias propostas ao debate público e legislação. Temos os exemplos dos Conselhos Municipais da Juventude, o Estatuto do Dirigente Associativo e Estudante Trabalhador, o Casamento Homossexual, a Co-adoção por casais homossexuais, a educação sexual entre outros. Estes foram vitórias do PS que foram originadas pela JS. É importante também referir que o PS tem nos seus estatutos a inerência da JS aos seus órgãos partidários, visando a participação ativa da JS dentro do Partido Socialista.

Infomedia: Qual é o papel de uma J’ nos partidos?
LG : Considero, de um modo mais genérico, que as juventudes tem um papel de rejuvenescer os partidos e criar um conjunto de jovens políticos com vanguarda política mas ao abrigo de uma ideologia comum e estratégia para uma sociedade.

Por Ana Rita Azevedo

Juventudes partidárias

As juventudes partidárias nasceram da necessidade de consciencializar partidos políticos das mais diversas problemáticas que atormentam os mais jovens.

A participação neste tipo de organizações começa desde bastante jovens, os 14 anos e termina quando estes atingem os 30, sendo que estas funcionam como o partido político em que estão integrados – núcleos, concelhias, distritais e nacionais e detém as suas próprias normas e regulamentos.

As J’s são verdadeiras escolas para jovens militantes, sendo que existe sempre um adulto que lhes fornece orientações de intervenção e recrutamento. É nestas que se organizam bastantes eventos, palestras entre outros que têm como objetivos tratar problemas ecológicos, de educação e ainda proposta a nível cultural, desportivo e de lazer, sendo que estes pensam sempre na melhor maneira de tratar os assuntos, convidando alguém dentro da área que querem apresentar para tratar o tema de forma consciente.

Um bom jovem militante raramente falta a uma conferência, comício ou congresso, pois são estes quase sempre os principais animadores, transportam consigo bandeiras, slogans, e saúdam os presidentes. Para um jovem militante de uma juventude que queira futuramente seguir uma vida profissional politicam, “dar nas vistas” é um fator essencial e que o fará marcar terreno para avançar.

Por Ana Rita Azevedo

Sinais de mudança na Europa

Na noite de 25 de janeiro deu-se a vitória do Syriza na Grécia. Um partido de esquerda radical e anti austeridade.

Foto: EPA

O partido grego é contra a troika, as medidas implementadas no país pelos anteriores membros do governo e assume que tirará o país da crise voltando a dar aos cidadãos aquilo que lhes foi retirado. A par destas eleições começaram a sentir-se muda na Europa, em Espanha com o partido Podemos também ele da esquerda radical, começou por organizar uma “marcha de mudança” que terá reunido cerca de 100 mil pessoas, segundo as fontes policiais.
O Podemos foi um partido que surgiu nas últimas eleições europeias e que elegeu cinco eurodeputados. Este foi oficializado em 2014 e teve na sua origem os protestos dos cidadãos do movimento cívico de 15 de maio. Foi o quarto partido mais votado nas eleições europeias do ano passado e segundo as sondagens realizadas recentemente no país está a frente do partido socialista espanhol.
A adesão da população a estes partidos vem demonstrar que as pessoas estão a perder o interesse pelos partidos tradicionais e a começar a aliar-se àqueles que ainda prometem que são diferentes e que vão lutar contra as medidas de austeridade.

Por Ana Rita Azevedo

Um dos únicos momentos em que os políticos aparecem em público

Por  Ana Rita Azevedo

A Feira do Fumeiro de Montalegre ficou marcada pelo início do itinerário político para 2015. Pedro Passos Coelho, o Primeiro – Ministro português marcou presença na passada sexta-feira, dia 23 de janeiro e no domingo dia 25 é a vez de António Costa.
As feiras que se realizam por vários pontos do país são uma das maneiras de os políticos aparecerem em público e manterem assim contacto direto com o povo eleitor. Estes apresentam-se de uma maneira mais ou menos discreta, sem bandeiras partidárias, música de campanha ou autocolantes, mas não passam despercebidos no meio da multidão, pois há sempre jornalistas, ou então a comitiva que os acompanha, desde militantes, curiosos, ou membros das listas.
O povo muitas das vezes não recebe os políticos da melhor maneira, principalmente aqueles que estão no poder, mas de forma mais geral gostam de os ver.
Numa altura em que portugueses estão desacreditados e tendem em não acreditar nas palavras dirigidas pelos políticos, o contacto pessoal e direto com estes é a melhor maneira de os fazer mudar os pensamentos e recuperar assim a confiança daqueles que um dia acreditaram nas capacidades deles.
Mas no final de contas este tipo de eventos, como a feira do fumeiro ou outro tipo de festas, não serve propriamente para estes comprarem alguma coisa, mas sim para serem vistos e se mostrarem, chamando assim a atenção das pessoas que por ali andam.
As feiras, criam contacto pessoal e direto dos políticos com a população, e são o único momento em que estes dão a cara, aparecem e estão presente, deixando de lado o estereótipo criado muitas vezes pelos meios de comunicação social.