#1 Jack Nicholson: o “bad boy”

A “The Internet Movie Database” (IMDB) detém várias listas de usuários com os melhores atores de todos os tempos. O Infomedia elaborará, durante duas semanas, um artigo para cada um dos cinco melhores atores presentes na lista da usuária “Yves Porters” . Jack Nicholson está no topo da montanha e parece não querer descer.

 “A maior e mais fiável fonte do mundo do cinema, da televisão e das celebridades” classifica o ator do clássico filme de terror “Shinning” como um dos melhores do planeta. Completou em abril 79 anos – muitos deles passados na pele de diversas personagens -, mas não se deixa influenciar pelo peso da idade. A estrada de Hollywood não tem limites para Jack Nicholson que começou a carreira como ator, mas aventurou-se no papel de produtor e diretor.

Das doze vezes que foi nomeado aos Óscares, contam-se três as que trouxe a estatueta para casa. De uma forma genérica, é apenas um ator que fez o papel de diversas personagens carismáticas que lhe valeram o primeiro lugar na lista. Mas não. Não fosse Jack Nicholson ser o irreverente e inigualável Nicholson e metade dos filmes nos quais entrou não subiriam ao pódio. Este é o ator que levou milhares de espectadores ao cinema.

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John Joseph “Jack” Nicholson, 79 anos. Fonte: Todo dia

Cresceu a acreditar que a mãe era a sua avó. Mas a história não acaba por aqui: quem Jack pensava ser a sua irmã mais velha era, na realidade, a mãe, June Nicholson. Uma árvore genealógica com os galhos trocados, que revelou as verdadeiras raízes quando o ator já completava 38 anos. Jack descobriu a verdade, através de uma publicação sobre a sua biografia, na revista Time. Se a mãe andou desencontrada entre o papel de avó e de irmã mais velha, também o pai encontra-se envolto entre um ítalo-americano, Donald Furcillo, e o homem que era empresário da própria mãe,  Eddie King. Segundo a biografia “A vida de Jack” de Patrick McGilligan, June Nicholson tinha duvidas quanto ao pai biológico do ator.

O iluminado

Começou a caminhada em Hollywood com o filme “The Cry Baby Killer” (1958), mas apenas chegou à estrada do sucesso com o filme “Easy Rider” (1969), que o levou à primeira nomeação aos Óscares. Não obstante à carreira de ator, Nicholson escreveu roteiros para filmes e sentou-se ainda na cadeira do diretor na película “Drive, He Said” (1971). A primeira estatueta como melhor ator chegou com “One Flew Over the Cuckoo’s Nest”, em 1975.

Para muitos, Jack Nicholson é indissociável do grande papel que exerceu em “Shinning” (1980). A história de um escritor maníaco que Nicholson vestiu na perfeição. De sorriso diabólico e com as sobrancelhas curvadas, características do ator, a personagem Jack Torrance passou a fazer parte da lista dos vilões mais conhecidos de Hollywood.

 

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“Here’s Johnny!”: cena emblemática da película “Shinning”. Fonte: Area H

A frase emblemática de “Shinning” não estava no roteiro do filme. “Here’s Johnny!” foi um improviso de Jack Nicholson. Segundo diversas fontes, o ator socorreu-se do programa “The Tonight Show – Starring Johnny Carson”, no qual o apresentador utilizava a expressão para se introduzir ao público.

O vilão favorito dos espectadores

Joker. Jack Nicholson. Dois nomes que juntos fazem magia. Foi em “Batman” (1989), um filme de Tim Burton, que o ator vestiu uma das personagens mais importantes do mundo da DC Comics. Pode parecer estranho que os melhores papeis sejam desempenhados no estatuto de psicopata, mas a verdade é que a sua personalidade irreverente ajuda na caracterização da personagem.  “The Joker” revelou-se um dos vilões preferidos dos espectadores após a interpretação inigualável do ator.

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Jack Nicholson na pele de “Joker”, o vilão de “Batman”. Fonte: imgrsc.ru
A acrescentar à lista dos filmes já referidos, existe um número considerado de clássicos nos quais o nome Jack Nicholson aparece nos créditos.

 

Seleção de filmes nos quais o ator entrou. Fonte: IMDB
1. Chinatown (1974)
2. Terms of Endearment (1983)
3. Melhor É Impossível (1997)
4. The Departed – Entre Inimigos (2006)

Na prateleira de galardões de maior relevância que Nicholson recebeu pode-se ver as três estatuetas dos Óscares, os sete Globos de Ouro e o prémio Kennedy. Relativamente aos relacionamentos que o ator foi mantendo ao longo da vida, perde-se a conta entre atrizes e modelos. Jack Nicholson sempre manteve o estatuto de “bad boy”. A dependência nas drogas, os conflitos com a policia e as relações conturbadas preencheram a vida do fã dos Lakers. O ator tem cinco filhas, três delas de relacionamentos diferentes.

Sobre o homem que é considerado o melhor ator do Universo são diversos os boatos que se criam, se são verdade ou não, dificilmente se descobrirá. No meio do enredo, existe um facto que é irrefutável, Jack Nicholson é um nome incontrolável na história do cinema.

Nádia Santos

 

 

Agnès Varda distinguida com doutoramento Honoris Causa na ULP

A cineasta belga foi distinguida no dia 29 de março pela Universidade Lusófona do Porto (ULP). Agnès Varda terá ainda um ciclo dedicado à sua obra a decorrer do dia 29 de março ao dia 1 de abril no Teatro Municipal Rivoli.


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Agnes Varda no festival de Cannes (2009)

Com 87 anos e um longo percurso de mérito no cinema e na fotografia, Agnès Varda dispensa apresentações. Ao contrário da estrutura baixa que apresenta, o sucesso que vem construindo até hoje tomou proporções bastante elevadas: a cineasta é reconhecida mundialmente. Na entrada da universidade, com alguma curiosidade, Agnès espreita pelo corredor para tentar perceber o que ali estavam a preparar. Era um cortejo académico, alguns docentes da ULP encontravam-se em fila a aguardar a autorização para desfilar e entrar na capela, onde haveria de decorrer a cerimónia de entrega do titulo.

Agnès Varda é uma verdadeira colecionadora de títulos em diferentes áreas. Num tom de brincadeira, a cineasta tem por habito afirmar que teve três vidas: primeiro viveu como fotógrafa, depois como cineasta e, mais recentemente, como artista. O Coro da ULP entoava pelo salão nobre e todos permaneciam com os olhos fixados naquela senhora que o rosto não era estranho aos presentes. Ao lado de Agnès encontrava-se a reitora da universidade, Isabel Babo e António Preto, o padrinho académico. A cineasta mantinha um sorriso no rosto e observava os presentes.

“A atribuição deste título exprime uma partilha do gosto pelas artes, mas é também uma prova de sobrestima cultural, artística e pessoal que nos enaltece”, defendeu Isabel Babo na intervenção que realizou na cerimónia. Esta não é a primeira vez que a realizadora de “Cléo de 5 à 7” vem à ULP, mas desta vez o motivo é diferente. Agnès será distiguida com o doutoramento Honoris Causa em Arte dos Media. Para a universidade, atribuir este título a um dos nomes maiores do cinema mundial tem um grande significado, segundo Isabel Babo: “Abriu-se um elo de ligação entre a universidade e a artista.”

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Cena do filme “Cléo de 5 à 7” (1961)

Para o padrinho, António Preto, doutorado e investigador na área do cinema, não existem palavras suficientes para a grandiosidade da obra da cineasta: “O meu discurso será redutor. É difícil elogiar o que não precisa de elogios.”

Agnès é uma ode à identidade feminina. No ano passado, recebeu a Palma de Ouro de carreira no Festival de Cinema de Cannes, tornando-se na primeira mulher a receber este prémio. Não obstante à proeza que conquistou em 2015, a autora da obra-prima “L’Une Chante, l’Autre Pas” é a única mulher realizadora a integrar a Nouvelle vague. Como realizadora, Varda recebeu importantes galardões internacionais pelo trabalho notável: Urso de Prata da Berlinale (1964), Leão de Ouro do Festival Internacional de Cinema de Veneza (1985), dois Prémios César (1984 e 2009) e o Prémio do Cinema Europeu (2001).

Após a intervenção de Isabel Babo e de António Preto, Agnês recebe a medalha do doutoramento pelas mãos da reitora da ULP. A nova Doutora falou aos presentes e demonstrou admiração em receber a distinção: “Eu não fiz os estudos. Estudava um pouco sozinha, mas não fiz qualquer exame, exceto o final do liceu. Podem imaginar a minha surpresa quando a universidade me propôs uma distinção universitária.”

Para Agnès, Portugal é um país do cinema e não recusa um convite à cidade portuense que a faz recordar velhos amigos como Manoel de Oliveira que considera um herói. No salão nobre surge ainda um convite para conhecer ou recordar o cinema de Varda que estará disponível num ciclo de três no Teatro Rivoli. Quem também não dispensou um conjunto de elogios à cineasta foi o seu amigo João Sousa Cardoso. O docente da ULP defende que Agnès é “uma lição para todos nós” por ser um “espírito livre” e revelar contestação.com o que é normal.

Saí do Porto com as medalhas de mérito no pescoço, o sorriso no rosto e o traje de doutora vestido. Para a cidade, é sempre um prazer receber uma personagem com uma notoriedade tão elevada como à que Agnès Varda conquistou.

Nádia Santos

“Human”: uma ode à humanidade

Três anos, duas mil pessoas e 60 países. Yann Arthus-Bertrand colecionou relatos pessoais do mundo inteiro e agrupou-os num documentário de três horas que reflete a essência humana.


Amor, felicidade, raiva e todas as emoções que nos definem como humanos encontram-se neste documentário. O “Human” é rico em testemunhos verdadeiros do quotidiano de diferentes etnias. “Eu sonhei com um filme em que a força das palavras ampliasse a beleza do mundo”, afirma o realizador. Os depoimentos discorrem entre pessoas sem reconhecimento mediático e grandes personalidades. O carismático ex-presidente uruguaio, Pepe Mujica, a atriz americana, Cameron Diaz, e o famoso Bill Gates foram alvos da seleção de Arthus-Bertrand. No conjunto, o filme conta com 200 testemunhos de vida.

“Eu ponho um prego e ando com elas para todo o lado”

A dona Maria, uma cidadã comum brasileira, também não fugiu aos encantos da máquina de filmar. A vida nem sempre lhe ofereceu sorrisos, mas com sangue e suor conquistou o terreno onde reside. As chinelas, que faz questão de expor no vídeo, estão gastas. Mas comprar umas novas passa para segundo lugar quando o dinheiro é necessário para a alimentação. “Eu ponho um prego e ando com elas para todo o lado”, explica Maria sobre a solução que encontrou para dar continuidade aquelas chinelas. “A minha pobreza é esta, mas eu continuo. Não tenho ambição por nada de ninguém”, conta-nos a mulher que já viveu num acampamento de plástico. Hoje, frequenta a escola todas as noites. Confessa que já sabe ler o alfabeto, mas nem sempre foi assim: “Eu não sabia o que era um A”. Apesar das dificuldades que enfrentou ao longo da vida, Maria demonstra-se sorridente e grata por tudo o que conquistou.

O chocolate

A história de Francine não passou despercebida nas redes sociais. Era ainda uma criança quando se viu forçada a ir para um campo de concentração, juntamente com a mãe. Como filha de prisioneiros da guerra, Francine tinha o privilégio de levar algumas coisas para o exílio. “Um saco com duas ou três coisas”, conta-nos. Chocolate. Dois pedaços de chocolate. “Guardarei estes pedaços para o dia em que precisares verdadeiramente deles”, afirmou a mãe que acreditava que o chocolate iria fazer a criança sentir-se melhor num momento de aflição. Francine concordou. Uma das mulheres do campo de concentração estava grávida. “Ela era tão magra”, revela a mulher que outrora era apenas uma criança perdida nos casulos dos nazis. O dia chegou: o bebe que a mulher trazia no ventre queria conhecer o mundo. Francine recorda-se que antes da grávida partir, a mãe fez referência aos pedaços de chocolate que havia guardado. “Se me permitires, darei o chocolate a esta mulher”, disse-lhe, explicando que o parto seria complicado e aquele pequeno prazer poderia ajudar. O bebe nasceu, a mulher não morreu e o chocolate ajudou. Anos depois da libertação dos campos, Francine organizou uma conferência. A determinado momento, uma mulher destaca-se da plateia e afirma que guardava algo para entregar à conferencista. Chocolate. Um pedaço de chocolate. “Eu sou o bebe”, afirmou a mulher que entregou o que guardava para Francine.

Para além das diferenças, somos todos iguais 

Entre a história de Maria e Francine existe um mar de depoimentos que Arthus-Bertrand fez questão de mostrar ao mundo. As entrevistas estão intercaladas com imagens sublimes do planeta Terra. “Human” é um cântico silencioso à humanidade. O filme revela as diferentes visões culturais, sociais e económicas, por entre as palavras, lágrimas e sorrisos que os entrevistados deixaram escapar. É difícil encaixar a essência humana num documentário. Mas mais difícil é perceber que para além das diferenças observáveis, somos todos iguais. Os sorrisos pertencem-nos, bem como as lágrimas. Para além das rugas e das cicatrizes, todos temos uma alma. O mundo não é apenas a rua onde vivemos ou trabalhamos. Existem mais ruas. Umas de terra, outras de alcatrão. Aquelas ingremes e outras mais planas. Existem mais ruas e, apesar de todas as diferenças, todas elas fazem parte do nosso planeta. E existem mais pessoas, – acreditem ou não – todas elas são seres humanos dignos de respeito.

Nádia Santos