Quando falamos em viajar é inevitável não pensarmos em viagens de lazer, viagens para descansar, para visitar os pontos altos da cidade ou até mesmo para ir à praia … É raro quando nos ocorre que há quem viaje em trabalho ou até mesmo em voluntariado. Pois bem, hoje as viagens que vamos falar são viagens de pessoas que voaram para fora de Portugal em voluntariado.
Foi em 2012 que Marta Cudell viajou até ao Cubal, em Angola. Em 2013, Maria Magalhães deixou o Porto para trás, durante dois meses, e foi parar a Fonte Boa, em Moçambique. Hoje, são estes dois exemplos que exploramos, apesar de haver muitos outros casos.
Ambas se juntaram ao grupo “Grão”. Esta instituição tem como objectivo levar jovens universitários até África para deixarem a sua marca e, no ano seguinte, novos grãozinhos possam ser plantados por outros voluntários. É um projecto em crescimento e um trabalho de equipa que se verifica ano após ano. Antes de irem em ‘missão’ o “Grão” dá um ano de formação aos futuros ‘grãozinhos’. Durante esse tempo os casulas passam por retiros espirituais; por fazer voluntariado em Portugal, mais precisamente, no Porto; por organizarem eventos com o objectivo de reunir o maior financiamento possível, pois os missionários não têm custos nenhuns com a viagem e a vida que fazem enquanto estão em missão. Os formadores encarregam-se de arranjar um sítio seguro para os ‘grãozinhos’ dormirem durante os dois meses (normalmente em casa de padres ou freiras), de encontrarem as viagens mais económicas, de dar a formação aos missionários e de ajudá-los em tudo o que eles precisarem.
Em 2012 foi a primeira vez que Marta entrou nesta aventura e deslocou-se até ao Cubal para ajudar em tudo o que fosse preciso: “A pobreza de lá chocou-me imenso. No sítio onde fiquei os miúdos não comiam todos os dias e, muitas vezes, quando comiam era uma vez ao dia.”
“Fui para lá e fiquei responsável pelos miúdos do orfanato. Tinha de lhes dar aulas de português e ainda tentei dar algumas de inglês, mas é muito complicado tentar instruir estas crianças, então fiquei só pelo português. Havia ainda missionários responsáveis por darem aulas de higiene e aulas de educação sexual, pois lá é muito frequente as raparigas serem mães muito novas”, afirmou Marta. Ao fim dos dois meses os ‘grãozinhos’, depois de completarem as suas funções, antes de regressarem a Portugal, têm direito a uma semana de retiro, de descanso: “Essa semana soube-me muito bem, pois já estava a ficar muito cansada, acordamos muito cedo e ficamos até tarde com eles. A nossa alimentação também não era igual à que estávamos habituados, ou seja, o nosso corpo começa a dar de si. Ao mesmo tempo sentimos que temos tanto tempo para descansar quando voltamos à nossa realidade, e que podíamos ter aguentado mais cinco dias a dedicarmo-nos de corpo e alma a todas aquelas pessoas maravilhosas que vivem numa realidade completamente diferente da nossa.”.
A voluntária afirma ainda que veio “uma pessoa completamente diferente”, a sentir-se “completa”. A experiência desta universitária não ficou por aqui, quando acabou a faculdade quis fazer mais, dedicar-se mais aos outros e realizou mais uma viagem em voluntariado: “a minha experiência no Cubal foi extraordinária, mas não me chegou, quis mais, quis fazer mais e em 2014 fui para Timor. Estive lá cerca de quatro meses e adorei. Acho que todos deviam passar por uma experiência destas. Quero voltar a fazer, mas o nosso mundo não me permite. Estou a trabalhar e o tempo de férias que tenho não é o suficiente para realizar uma viagem deste cariz. Fiz duas viagens em voluntariado, mas não vou ficar por aqui, quando tiver hipótese irei para a Índia”.
Foi em 2013 que Maria Magalhães aterrou em Fonte Boa durante dois meses: “estive lá dois meses, foram únicos, de uma entrega total, plena e extraordinária.” A viagem que estes voluntários fazem exige bastante deles. Segundo Maria, “é uma viagem que exige muito de nós, temos de estar bem connosco próprios para podermos dar o máximo, pois estas pessoas precisam mesmo de nós, não a 100%, mas a 200%. Vê-se coisas que nos chocam bastante porque a verdade é que as realidades são bastante diferentes, muitas vezes temos de ter sangue frio e engolir em seco para os podermos ajudar”.
A voluntária aconselha “vivamente que todos os jovens passem por esta experiência, para além de nos sentirmos em paz e realizados, estamos a ajudar o outro. Nada é mais importante que a entrega, partilha e ajuda ao/com os outros; são humanos, podia ser qualquer um de nós nesse papel. Não precisamos de ir a África para ajudar as outras pessoas, se cada uma ajudar, da maneira que puder, o vizinho, o amigo, o desconhecido; se cada um plantar um grãozinho o mundo seria muito melhor.”
O testemunho destas duas jovens deixam-nos de facto a pensar … E que tal fazermos uma viagem em voluntariado? Não deixe de seguir as experiências destes ‘grãozinhos’, vá ao facebook, escreva “Grão” e siga todos os passos que eles dão.
Inês Magalhães