Agnès Varda distinguida com doutoramento Honoris Causa na ULP

A cineasta belga foi distinguida no dia 29 de março pela Universidade Lusófona do Porto (ULP). Agnès Varda terá ainda um ciclo dedicado à sua obra a decorrer do dia 29 de março ao dia 1 de abril no Teatro Municipal Rivoli.


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Agnes Varda no festival de Cannes (2009)

Com 87 anos e um longo percurso de mérito no cinema e na fotografia, Agnès Varda dispensa apresentações. Ao contrário da estrutura baixa que apresenta, o sucesso que vem construindo até hoje tomou proporções bastante elevadas: a cineasta é reconhecida mundialmente. Na entrada da universidade, com alguma curiosidade, Agnès espreita pelo corredor para tentar perceber o que ali estavam a preparar. Era um cortejo académico, alguns docentes da ULP encontravam-se em fila a aguardar a autorização para desfilar e entrar na capela, onde haveria de decorrer a cerimónia de entrega do titulo.

Agnès Varda é uma verdadeira colecionadora de títulos em diferentes áreas. Num tom de brincadeira, a cineasta tem por habito afirmar que teve três vidas: primeiro viveu como fotógrafa, depois como cineasta e, mais recentemente, como artista. O Coro da ULP entoava pelo salão nobre e todos permaneciam com os olhos fixados naquela senhora que o rosto não era estranho aos presentes. Ao lado de Agnès encontrava-se a reitora da universidade, Isabel Babo e António Preto, o padrinho académico. A cineasta mantinha um sorriso no rosto e observava os presentes.

“A atribuição deste título exprime uma partilha do gosto pelas artes, mas é também uma prova de sobrestima cultural, artística e pessoal que nos enaltece”, defendeu Isabel Babo na intervenção que realizou na cerimónia. Esta não é a primeira vez que a realizadora de “Cléo de 5 à 7” vem à ULP, mas desta vez o motivo é diferente. Agnès será distiguida com o doutoramento Honoris Causa em Arte dos Media. Para a universidade, atribuir este título a um dos nomes maiores do cinema mundial tem um grande significado, segundo Isabel Babo: “Abriu-se um elo de ligação entre a universidade e a artista.”

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Cena do filme “Cléo de 5 à 7” (1961)

Para o padrinho, António Preto, doutorado e investigador na área do cinema, não existem palavras suficientes para a grandiosidade da obra da cineasta: “O meu discurso será redutor. É difícil elogiar o que não precisa de elogios.”

Agnès é uma ode à identidade feminina. No ano passado, recebeu a Palma de Ouro de carreira no Festival de Cinema de Cannes, tornando-se na primeira mulher a receber este prémio. Não obstante à proeza que conquistou em 2015, a autora da obra-prima “L’Une Chante, l’Autre Pas” é a única mulher realizadora a integrar a Nouvelle vague. Como realizadora, Varda recebeu importantes galardões internacionais pelo trabalho notável: Urso de Prata da Berlinale (1964), Leão de Ouro do Festival Internacional de Cinema de Veneza (1985), dois Prémios César (1984 e 2009) e o Prémio do Cinema Europeu (2001).

Após a intervenção de Isabel Babo e de António Preto, Agnês recebe a medalha do doutoramento pelas mãos da reitora da ULP. A nova Doutora falou aos presentes e demonstrou admiração em receber a distinção: “Eu não fiz os estudos. Estudava um pouco sozinha, mas não fiz qualquer exame, exceto o final do liceu. Podem imaginar a minha surpresa quando a universidade me propôs uma distinção universitária.”

Para Agnès, Portugal é um país do cinema e não recusa um convite à cidade portuense que a faz recordar velhos amigos como Manoel de Oliveira que considera um herói. No salão nobre surge ainda um convite para conhecer ou recordar o cinema de Varda que estará disponível num ciclo de três no Teatro Rivoli. Quem também não dispensou um conjunto de elogios à cineasta foi o seu amigo João Sousa Cardoso. O docente da ULP defende que Agnès é “uma lição para todos nós” por ser um “espírito livre” e revelar contestação.com o que é normal.

Saí do Porto com as medalhas de mérito no pescoço, o sorriso no rosto e o traje de doutora vestido. Para a cidade, é sempre um prazer receber uma personagem com uma notoriedade tão elevada como à que Agnès Varda conquistou.

Nádia Santos

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