Inversão e contraste

Ainda que manifeste a sua quota parte de dificuldade (por ter o objetivo de provocar uma reação física – o riso – num interlocutor que pode estar diante de nós ou na outra ponta do mundo), existem meios que facilitam a escrita humorística. São as chamadas técnicas, que na verdade são fórmulas conhecidas e aplicáveis, e que ajudam a tornar o processo criativo mais fluido e eficaz. Além disso, conhecer as técnicas pode servir para solucionar uma situação de bloqueio ou de falta de ideias. Atentemos nelas.

INVERSÃO

A primeira técnica é então a inversão. Se, como já foi referido, a piada é uma surpresa, é natural que, no humor, o que tem graça é justamente quando acontece algo que não é expectável. Isto é, quando existe a inversão dos comportamentos normais associados a determinados papéis e intervenientes sociais. Um filho que repreende o progenitor, um ladrão que tenta roubar uma senhora idosa e acaba antes por ser ele a vítima, uma concorrente da Casa dos Segredos que ganha o Prémio Nobel da Literatura. O humor é isto mesmo: reconhecer e deturpar. É a história B que, no nosso cérebro, é o desvio à normalidade. Duas lógicas díspares que, por um instante repentino, são concomitantes. Um exemplo de inversão é o sketch seguinte do Melhor Do Que Falecer, no qual Jorge Jesus dá lições de linguagem a Ricardo Araújo Pereira, apesar de ser conhecido pelas suas gaffes:

CONTRASTE

O contraste é a coexistência de duas personagens que até podem, isoladamente, não ter interesse nenhum, mas que quando estão juntas têm graça. No entanto, ambas têm de simbolizar o pleno oposto uma da outra, pois o que desperta a piada é, em concreto, o emparelhamento de um par singular composto por duas unidades sem nada a ver entre si. O caso mais clássico é o do Bucha e Estica – que, apesar de apresentarem traços de comédia, apenas despertam o seu potencial humorístico quando colocados lado a lado.

Ricardo Marques

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