Sempre que Augusto Oliveira quer usar uma camisola de manga curta ou uns calções, sabe que vai enfrentar olhares comprometedores e fixados em certas partes do seu físico. Isto acontece porque ele tem grande parte do seu corpo com bastantes lesões que formam crostas avermelhadas, que se estendem ao longo do seu tronco.
Psoríase é o nome da doença crónica que Augusto tem na pele.
“Com vinte e três anos quase que nem me apercebia que tinha esta doença, pois era muito pouco notório e em escala reduzida. Com o passar dos anos e com problemas psiquiátricos e de nervosismo extremo, a psoríase acelerou imenso e piorei. Com 48 anos, tive uma doença oncológica maligna e ao fazer tratamentos de radioterapia e quimioterapia, a psoríase comeu e come grande parte do meu corpo, e nunca sara. Hoje em dia ,estou no pico máximo, segundo os médicos, da doença.“
Augusto sofre do principal tipo de psoríase que é a psoríase em placas. Estas lesões apresentam-se em placas ovais e distribuem-se simetricamente pelo couro cabeludo, cotovelos, joelho, umbigo e costas.
Frequenta há vinte e seis anos a Unidade Dermatológica do Hospital Santos Silva, situada em Vila Nova de Gaia. Duas a três vezes por ano, o corpo técnico recebe a visita de Augusto que, apesar do carinho que tem para com a equipa médica, não recebe boas notícias: “Não há cura, é crónico”.
Já tomou diversos medicamentos e usou diferentes pomadas, mas os químicos apenas lhe retiram o caspão, dando a sensação que “a pele está limpa mas rapidamente reaparece tudo de novo. “
“O médico aconselha-me a não me enervar tanto, mas é difícil pois já sou uma pessoa nervosa por natureza, e com o que me tem acontecido na vida, ainda pior. E então como ando sempre enervado isto “rebenta” tudo. Sinto uma enorme comichão e as crostas ficam em sangue de tanto coçar … !“
Augusto evita comer fritos e beber bebidas alcoólicas, no Verão aproveita o sol e banha-se na água salgada do mar, o que atenua visivelmente a doença. As pessoas que o conhecem, não têm pudor algum em se relacionar com ele. No entanto quem não sabe os contornos da doença, é notório o receio.
“As pessoas quando eu trabalhava, tinham receio de estar à minha beira mas depois não havia problemas porque eu dizia que não era contagioso e aceitavam-me bem, embora inicialmente me sentisse um pouco discriminado.”
Augusto não encara a doença como algo mau e sabe que por o que já passou este, é o menor dos seus problemas.
“Esta doença não mata ninguém, eu fico bonito na mesma! Tomara eu só ter isso e estava radiante da vida. O cancro ou as doenças psiquiátricas há beira disto é que são bichos que matam, e ninguém se afasta de pessoas que têm esses males. O facto de se ver algo assusta as pessoas mas, há males piores bem escondidos por dentro! “
Informações Adicionais
A psoríase é uma doença crónica na pele, caraterizada pela inflamação e híper proliferação das células nas camadas mais superficiais da epiderme que podem resultar em lesões extensas por todo o corpo.
Afeta cerca de 1% a 3% da população, geralmente entre os 10 anos e os 30 anos. Atinge ambos os sexos em igual proporção e todas as etnias, sendo mais comum em caucasianos. A psoríase não tem cura mas não é contagiosa. Os medicamentos existentes apenas atenuam a doença ou impedem a sua expansão.
A causa desta doença ainda é desconhecida, embora se tenha verificado que surge devido a interações de fatores genéticos, ambientais e auto imunes. Os glóbulos brancos – as células de defesa do organismo, são aparentemente os responsáveis por esta inflamação na pele.
Qualquer pessoa pode desenvolver psoríase, todavia alguns fatores aumentam este risco. Pessoas suscetíveis ao tabagismo, obesidade, história familiar de psoríase, alcoolismo, stress físico ou psicológico, SIDA ou infeções bacterianas ou virais, estão mais vulneráveis a este tipo de doença.
Apoios
A Associação Portuguesa da Psoríase (PSO PORTUGAL) é uma associação em Portugal que promove e dinamiza campanhas para alertar, despertar e sensibilizar a sociedade para a discriminação social e profissional de que são alvo os 250 mil portugueses que sofrem de psoríase. O serviço nacional de Saúde inclui no escalão A de comparticipação os medicamentos queratolíticos e antipsoriáticos destinados aos doentes portadores de psoríase, através da Lei n.º 6/2010. DR 89 SÉRIE I de 2010-05-07, o que permite a estes doentes terem acesso a todos os medicamentos necessários para amenizar e retardar as consequências desta doença com custos muito reduzidos.
Rita Silva