O que é isso de igualdade? O que nos une, o que nos separa (?) [#Projeto Especial]

 

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Editorial

A ideia de igualdade pode, por vezes, não significar que usuframos todos dos mesmos direitos, privilégios, oportunidades e deveres, esclarece-nos Sílvia Gomes, vice-presidente da Associação plano i, numa aula aberta de Géneros Jornalísticos, realizada em dezembro de 2016. Para quem assim lê esta afirmação parece confrontar-se com um paradoxo. Então igualdade não é estar perante um cenário que proporciona igual usufruto de oportunidades? Como explicar o aparente contrassenso? Imaginem, então, um muro, usando um cenário proposto igualmente pela socióloga. Perante esse muro estão várias pessoas que podem contemplar o que está do outro lado. Estão em pé de igualdade, certo? À partida tudo em indica que sim. Quando olhamos as particularidades, porém, apercebemo-nos de desafios. Uma das pessoas perante esse muro é mais baixa, logo não consegue vislumbrar a paisagem. Será que ajudá-la com um pequeno degrau não é colocá-la então em pé de igualdade com os demais? Foi isso que a turma de finalistas de Ciências da Comunicação da Universidade Lusófona do Porto tentou fazer. “Saindo da sua zona de conforto”, os futuros jornalistas foram à procura desses degraus para ver além do muro, visibilizando tanto grupos vulneráveis, como minorias, questões de igualdade/desigualdade de género, num desafio proposto pela unidade curricular de Géneros Jornalísticos.

Em matéria de grupos vulneráveis este trabalho coletivo reúne quatro reportagens. A Sara Oliveira traz-nos a história de João (“Viver de Pensão em Pensão”), o homem que todos conhecemos das ruas da invicta por nos pedir “um euro emprestado”. Tiago Sá Pereira revela-nos a história de Ilídio Neves (“O pugilista amador que venceu a droga já só quer voltar a amar”) e a viagem de luta contra a toxicodependência. Gabriela Ferreira dá-nos a conhecer Ervilha, “o arrumador”, numa viagem intimista através da história do homem que já faz parte da família da Universidade Lusófona do Porto. Maria Inês Moreira (“A vida com uma pulseira eletrónica”) abre-nos a porta do mundo de quem vive em prisão domiciliária e confidencia penitências e caminhos da condição humana. Em matéria de questões de género, Andreia Resende alerta que há ainda um “longo caminho da mulher para a Igualdade na Educação”; Diogo Moreira traça-nos um diagnóstico sobre “As disparidades salariais entre homens e mulheres”; e Esther Rodriguez, a nossa estudante de Erasmus, oriunda de Madrid, denuncia desigualdades no desporto em Espanha com a reportagem que questiona: “Fútbol, atletismo y esgrima, deportes tenidos de machismo?” Sobre alimentação vegetariana e vegan, Rita Silva percorreu as subtilezas da desigualdade nestas questões alimentares, fazendo um diagnóstico preliminar sobre “Ser ou não Ser Vegetariano?”. Por último, mas não menos importante, Ana Martins relata a história da família Guerra Martins, que chegou de Angola, em 1975, apenas com a roupa do corpo, centrando-se em Cecília, a qual denuncia o preconceito racial de que foi alvo.

Num contexto em que as nações unidas redefiniram os objetivos globais de desenvolvimento sustentável em diversas áreas de intervenção, importa refletirmos qual o nosso papel e como nos mobilizamos em prol de uma ideia de desenvolvimento que coloca o ser humano no centro das atividades. Tal no sentido de contribuir para a melhoria de vida de pessoas, grupos e comunidades, facilitando o seu acesso a oportunidades e direitos, desconstruindo e combatendo, junto de diferentes interlocutores individuais e coletivos, discursos e práticas promotoras da discriminação, da exclusão e da violência.
As histórias importam, mas também o processo em que foram desenvolvidas, por isso, não se esqueçam de ler, ainda, o diário de bordo desta turma empenhada “em fazer a diferença”, como gostam de afirmar. Boa viagem!