A ciência no feminino antes da Revolução dos Cravos

Em 1933, Portugal começou a ser regido por um Estado autoritário que permaneceu por mais 41 anos. Tudo acabou com a Revolução dos Cravos, no dia 25 de Abril de 1974.
O Estado Novo não modificou apenas a política do País, a sociedade e a cultura mudaram, as liberdades foram suprimidas e a censura era exercida no jornalismo e nas artes.
Tudo apontava que a aposta na ciência e na tecnologia estagnasse. Na verdade, Portugal continuava a ser um dos países europeus menos desenvolvidos na área da ciência.
O mote “Deus, Pátria e Família” estava presente no quotidiano da população portuguesa. Muitas mulheres tinham uma vida dedicada à família, eram vistas como “donas de casa, esposas e mães” e, ainda se acreditava que os homens deveriam ser o sustento da família, devido “às diferenças resultantes da sua natureza e pelo bem da família”, como se lê na Constituição de 1933.
Quando pensamos em mulheres portuguesas na ciência, pensamos no presente e, custa-nos a acreditar que, de facto, a ciência era também exercida no feminino no período do Estado Novo.

Conheça aqui algumas mulheres que desafiaram os ideais do Estado Novo e mudaram a ciência em Portugal:

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Bianca Edmée Marques (1899-1986): órfã de pai aos oito anos de idade, foi a sua mãe que se encarregou da educação. Formou-se na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa em Ciências Físico-Químicas, obtendo sempre as classificações mais altas em todas as disciplinas.
Ainda antes de terminar o curso, foi convidada para Assistente de Química e foi a única mulher entre professores e funcionários do Laboratório de Química.
Quanto à sua atividade enquanto docente, entre 1942 a 1953 foi Professora Extraordinária e, em 1954, concorreu a uma vaga de Professor Catedrático, em que ficou aprovada por mérito absoluto, mas só ascendeu à categoria passado 12 anos.


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Seomara da Costa Primo (1895-1986): distinguiu-se como professora no ensino secundário e universitário e como investigadora nas áreas das Ciências Naturais e da Educação.
Estudou na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa onde concluiu o curso de Ciências Histórico-Naturais, em 1919.
Em 1942, tornou-se a primeira mulher a doutorar-se em Ciências. Seomara foi autora de vários artigos científicos, publicados na imprensa especializada e citados na imprensa estrangeira.


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Sara Barchilon Benoliel (1898-1970): licenciou-se na Faculdade de Medicina de Lisboa, em 1925. Foi a primeira médica pediatra em Portugal e teve um papel importante no desenvolvimento da pediatria do País.
Publicou numerosos trabalhos na área da puericultura e pediatria, combatendo sempre os preconceitos e o imenso atraso de Portugal nesta área. Foi também uma das primeiras mulheres do seu tempo a guiar carro, o que causou um certo escândalo.
Foi ainda ativista da Hehaber, uma organização que teve durante a II Guerra Mundial um papel relevante no apoio aos refugiados de Hitler.


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Maria de Lourdes Ruivo Pintasilgo (1930-2004): foi uma engenheira química, a única mulher que desempenhou o cargo de primeiro-ministro em Portugal e a terceira mulher a desempenhar o mesmo cargo na Europa.
Em 1953, com 23 anos, licenciou-se em Engenharia Químico-Industrial, pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa, numa época em que eram poucas as mulheres que enveredavam pela área da engenharia: entre os 250 alunos do seu curso, apenas três eram mulheres. Com a opção por esta licenciatura, desejava mostrar que o desafio do mundo industrial e a novidade da técnica eram também acessíveis às mulheres.
Iniciou a sua carreira profissional, em Setembro de 1953, como investigadora na Junta de Energia Nuclear. Em Julho de 1954, foi nomeada chefe de serviço no Departamento de Investigação e Desenvolvimento da Companhia União Fabril, que aceitou pela primeira vez uma mulher nos seus quadros técnicos superiores.
A sua carreira na política começou após a Revolução dos Cravos, sendo nomeada secretária de Estado da Segurança Social no I Governo Provisório.

Conheça a vida de mais mulheres que mudaram a história de Portugal na AMONET (Associação Portuguesa de Mulheres Cientistas).

Diana Pinto Alves

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